Crise no MEC: secretária da Educação Básica pede demissão e presidente do Inep é exonerado

Via Portal Hora do Povo / Foto: Marcelo Camargo – Agência Brasil

Assim como uma nova semana foi iniciada no Ministério da Educação do governo Bolsonaro, uma nova crise entre os seus integrantes também se iniciou. Desta vez, a pasta comandada por Ricardo Vélez Rodriguez – indicado pessoalmente pelo guru do bolsonarismo e tido como um dos homens fortes do governo – exonerou o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Marcus Vinicius Rodrigues.

Rodrigues, ex-professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) estava no cargo desde 22 de janeiro. A demissão foi oficializada pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni em edição extra do Diário Oficial publicada às 18 horas desta terça-feira.

O motivo de sua exoneração gira em torno do cancelamento da avaliação dos níveis de alfabetização das crianças de até sete anos.

Na manhã da segunda-feira (25), o governo publicou uma portaria sobre novas regras para o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e que definia que a medição da qualidade da alfabetização das crianças só seria feita a partir de 2021.

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), este prazo foi estabelecido em função da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e da nova política de alfabetização.

A suspensão das avaliações de alfabetização não foi discutida dentro do MEC. O pedido foi realizado pelo secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, diretamente ao presidente do Inep.

Na tarde da segunda-feira (25), a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Tania Leme de Almeida, pediu demissão após não ter sido consultada sobre suspender as avaliações de alfabetização no país.

A pasta chefiada por Tania é responsável pela Educação Infantil, pelo Ensino Fundamental e pelo Ensino Médio. Ao que parece, a opinião de Tânia não importava para os demais membros do governo.

Depois do seu pedido de demissão,  o governo Bolsonaro voltou atrás, revogou a portaria e afirmou que iria manter a avaliação. Tania já estava disposta a se desligar do governo na semana passada, pois estaria sofrendo ataques de pessoas ligadas ao astrólogo guru de Bolsonaro, Olavo de Carvalho.

Até o fechamento desta matéria, Carlos Nadalim, permanecia no cargo.

Nadalim é ex-aluno de Olavo de Carvalho e foi um dos indicados ao cargo pelo astrólogo, assim como o próprio ministro Ricardo Vélez Rodrigues.

CRISE ASTRAL

As recentes baixas colocam ainda mais o Ministério da Educação em meio à disputa ideológica entre olavistas e demais reacionários que disputam espaço no governo. Em meio a frequentes reuniões com Bolsonaro, Vélez demitiu alguns de seus auxiliares.

No dia 10 de março, após um encontro não agendado com Bolsonaro, o ministro da Educação exonerou o coronel-aviador da reserva Ricardo Wagner Roquetti do cargo de diretor de Programa da Secretaria-Executiva da pasta.

A determinação veio após críticas de Olavo de Carvalho a Roquetti no Twitter. Integrantes do grupo olavista divulgaram nas redes sociais que Bolsonaro ordenou ao ministro, indicado ao cargo pelo astrólogo e autoproclamado “filósofo”, o afastamento do diretor. Na sexta-feira (8), Olavo falou sobre uma “zona no MEC” e que Roquetti influenciava negativamente Ricardo Vélez ao “afastar o ministro de pessoas próximas ligadas a ele”, em referência a alunos e integrantes que compartilham de suas ideias.

No último dia 12, o segundo cargo mais importante do Ministério, o secretário-executivo Luiz Antonio Tozi foi exonerado. Vélez não explicou os motivos da troca, mas a demissão de Tozi também foi pedida nas redes sociais por Olavo de Carvalho – que atribuiu a ele um movimento de enfraquecer seus ex-alunos na pasta.

No dia 14, após voltar de uma viagem, o ministro confirmou, por meio das redes sociais, que o cargo ficaria com a pastora Iolene Lima defensora de uma “uma educação baseada na palavra de Deus. Onde a Geografia, a História, a Matemática, vai ser vista sob a ótica de Deus”. A nomeação dela também não foi chancelada pela Casa Civil.

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